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PODCAST 9 – A sofrência através dos séculos

maio 4, 2020
https://umprofessorle.com.br/wp-content/uploads/2020/05/PODCAST-9-A-sofrência-através-dos-séculos.mp3

Neste episódio, trataremos de um dos temas mais abordados pela literatura de todos os tempos e lugares: o sofrimento amoroso. Iniciando por uma leitura do poema de Fernando Pessoa “Autopsicografia”, faremos um percurso de oitocentos anos em que os poetas revelam as dores de amor. Do Trovadorismo galaico-português de Martim de Guinzo e Pêro da Ponte até o barroco das cartas de Mariana Alcoforado e dos sonetos de Gregório de Matos, chegando, no século XXI, ao sertanejo universitário das canções de Marília Mendonça e de Jorge & Mateus. Como se verá, a tradição de ser coitado por amar vem de muitos séculos.

AUTOPSICOGRAFIA

(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

 

***

(Martim de Guinzo)

  Como vivo coitada, madre, por meu amigo,

ca m’enviou mandado que se vai no ferido;

    e por el vivo coitada.

 

Como vivo coitada, madre, por meu amado,

ca m’enviou mandado que se vai no fossado;

    e por el vivo coitada.

 

Ca m’enviou mandado que se vai no ferido,

eu a Santa Cecilia de coraçom o digo:

    e por el vivo coitada.

 

Ca m’enviou mandado que se vai no fossado,

eu a Santa Cecilia de coraçom o falo:

    e por el vivo coitada.

*** 

 (Pêro da Ponte)

Se eu podesse desamar

a quem me sempre desamou

e podess’algum mal buscar

a quem me sempre mal buscou!

Assi me vingaria eu,

       se eu pudesse coita dar

       a quem me sempre coita deu.

 

Mais sol nom poss’eu enganar

meu coraçom que m’enganou,

per quanto mi fez desejar

a quem me nunca desejou.

E por esto nom dórmio eu,

       porque nom poss’eu coita dar

       a quem me sempre coita deu.

 

Mais rog’a Deus que desampar

a quem m’assi desamparou,

ou que podess’eu destorvar

a quem me sempre destorvou.

E logo dormiria eu,

       se eu podesse coita dar

       a quem me sempre coita deu.

 

Vel que ousass’en preguntar

a quem me nunca preguntou,

por que me fez em si cuidar,

pois ela nunca em mi cuidou;

e por esto lazeiro eu:

       porque nom posso coita dar

       a quem me sempre coita deu.

***

CARTAS PORTUGUESAS

(Sóror Mariana Alcoforado)

“Considera, meu amor, a que ponto chegou a tua imprevidência. Desgraçado!, foste enganado e enganaste-me com falsas esperanças. Uma paixão de que esperaste tanto prazer não é agora mais que desespero mortal, só comparável à crueldade da ausência que o causa. Há de então este afastamento, para o qual a minha dor, por mais subtil que seja, não encontrou nome bastante lamentável, privar-me para sempre de me debruçar nuns olhos onde já vi tanto amor, que despertavam em mim emoções que me enchiam de alegria, que bastavam para meu contentamento e valiam, enfim, tudo quanto há? Ai!, os meus estão privados da única luz que os alumiava, só lágrimas lhes restam, e chorar é o único uso que faço deles, desde que soube que te havias decidido a um afastamento tão insuportável que me matará em pouco tempo.”

***

SEGUNDA IMPACIÊNCIA DO POETA

(Gregório de Matos)

Cresce o desejo, falta o sofrimento,

Sofrendo morro, morro desejando,

Por uma, e outra parte estou penando

Sem poder dar alívio a meu tormento.

 

Se quero declarar meu pensamento,

Está-me um gesto grave acobardando,

E tenho por melhor morrer calando,

Que fiar-me de um néscio atrevimento.

 

Quem pertende alcançar, espera, e cala

Porque quem temerário se abalança,

Muitas vezes o amor o desiguala.

 

Pois se aquele, que espera sempre alcança,

Quero ter por melhor morrer sem fala,

Que falando, perder toda esperança.

***

AUSÊNCIA

(Felipe de Paula, Hugo Henrique e Juliano Tchula. Intérprete: Marília Mendonça)

Sei bem

O que te faz bem, eu sei

Mas no fundo eu já tentei

Não faltou coragem

 

É, uma hora eu ia me tocar

Que você não vai mais voltar

Não receber mensagem

Também é mensagem

 

Sei

Que o pra sempre virou pó

E na cabeça deu um nó

Mas eu tô bem consciente

Mas amei

Amei sozinha, mas por dois

Me conformei que agora, e não depois

Vou ter que seguir em frente

 

Preocupa não

Que eu não vou bater no seu portão

Preocupa não

Que não vai ver mais o meu nome em nenhuma ligação

Preocupa não

Que eu vou tomar vergonha na cara

Preocupa não

Pra um bom entendedor, meia ausência basta

***

DE TANTO TE QUERER

(Jorge Barcelos. Intérpretes: Jorge & Mateus)

Larga tudo e vem correndo

Vem matar minha vontade

Já faz tempo que eu tô sofrendo

Mereço um pouco de felicidade

 

Larga tudo e vem correndo

Pra eu mergulhar no teu sorriso

Me arranca desse inferno

Me leva pro seu paraíso

 

Eu não desisto do que eu quero

Mas não me desespero

Te espero

Na tarde quente ou madrugada fria

Na tristeza ou na alegria

 

Ficar sozinho não rola

Mas amor não se implora

Nem se joga fora

O amor a gente conquista

E não há quem desista

Se o coração chora

 

Chora com vontade de te ver

Chora com saudade de você

Chora às vezes eu nem sei por que

Deve ser de tanto te querer

De tanto amar você

barrocoGregório de MatosMariana AlcoforadopoemaTrovadorismo
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Comment


DENISE MARIA SOUSA DE MELLO
June 1, 2020 at 11:50 pm
Reply

Adorei. Vou prestar mais atenção nas letras das músicas sertanejas. Mas fiquei pensando …, ficaram muito mais interessantes quando declamadas. Fica a dica.



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