• Encontre-nos

    Endereço
    Universidade Federal da Fronteira Sul

    Avenida Edmundo Gaievski, 1000,

    Acesso Rodovia PR 182, Km 466,

    CEP 85770-000

    http://www.uffs.edu.br

  • Assinar

  • Página inicial
  • Quem somos
  • Estantes
    • Literatura Brasileira
    • Literatura Portuguesa
    • Literaturas Africanas
    • Outras Literaturas
  • Podcasts
  • Blog
  • Contato

PODCAST 19 – Fernando Pessoa, a pluralidade do um

julho 13, 2020
https://umprofessorle.com.br/wp-content/uploads/2020/07/PODCAST-19-Fernando-Pessoa-a-pluralidade-do-um.mp3

No episódio de hoje, percorremos as principais vias dos poetas heterônimos de Fernando Pessoa. O jogo que se elabora nos quatro poetas (Alberto Caeiro, Fernando Pessoa ele-mesmo, Ricardo Reis e Álvaro de Campos) são faces complementares desse caleidoscópio que é, em seu conjunto, toda uma literatura. Analisando um poema de cada um, associando a algumas características e curiosidades, podemos iniciar o caminho, sempre proveitoso, da poesia pessoana em toda a sua pluralidade.

 

***

Alberto Caeiro

 

O guardador de rebanhos – XXIV

 

O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

 

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.


***

Fernando Pessoa

 

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,

 

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

 

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões para cantar que a vida.

 

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente está pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!

 

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

 

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

 

***
Ricardo Reis

 

As rosas amo dos jardins de Adónis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
        Que em o dia em que nascem,
        Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o Sol, e acabam
        Antes que Apolo deixe
        O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
        Que há noite antes e após
        O pouco que duramos.

***

Álvaro de Campos

 

“Pecado Original”

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.

 

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

 

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

 

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito à mesa de depois?

 

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

 

Quantos Césares fui!

 

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!

Alberto CaeiroÁlvaro de CamposFernando PessoamodernismopoemaPoesiaPortugalRicardo Reisséculo XX
Share

Podcast

sthimoteo

You might also like

EPISÓDIO 8 – NATÁLIA CORREIA ou O sol das noites e o luar dos dias
junho 28, 2024
EPISÓDIO 7 – MANUEL DA FONSECA ou A vida é tão pouca e o mundo é tão grande
junho 20, 2024
EPISÓDIO 6 – VITORINO NEMÉSIO ou O corsário das ilhas
junho 6, 2024

Leave A Reply


Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *




© professorle2017