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PODCAST 15 – A poesia de combate de Agostinho Neto

junho 15, 2020
https://umprofessorle.com.br/wp-content/uploads/2020/06/PODCAST-15-A-poesia-de-combate-de-Agostinho-Neto.mp3

Neste episódio, analisamos a obra de Agostinho Neto, um poeta angolano que usou a palavra como instrumento de luta pela liberdade. Em três poemas, observamos como os conceitos de Africanidade e Negritude são mobilizados como forma de afirmação da própria identidade e defesa do que se acredita. São batalhas diárias e sempre atuais, que devem ser ouvidas por todos, até que o óbvio se converta em certeza.

 

***

SAUDAÇÃO

A ti, negro qualquer

meu irmão do mesmo sangue

Eu Saúdo!

 

Esta mensagem

seja o elo que me ligue ao teu sofrer

indissoluvelmente

e te prenda ao meu Ideal

 

Que me faça sentir

a dor e a alegria

de ser o negro-qualquer perdido no mato

com medo do mundo ofuscante e terrível

e nos alie agora na sua busca

 

e me obrigue a sentar-me ao teu lado

à mesa suja dos excessos de sábado à noite

para esquecer a nudez e a fome dos filhos

e sinta contigo a vergonha

de não ter pão para lhes dar

para que juntos vamos cavar a terra

e fazê-la produzir

 

e me transforme no homem-número-abstracto

desconhecedor dos objectivos

na tarefa que nos consome

como o bastardo desprezado de certo mundo

nesta madrugada do nosso dia

 

me faça enfim

o negro-qualquer das ruas

e das sanzalas

sentindo como tu a preguiça

de dar o passo em frente

para nos ajudarmos a vencer

a inércia dos braços musculados

 

Esta é a hora de juntos marchamos

corajosamente

para o mundo de todos

os homens

 

Recebe esta mensagem

como saudação fraternal

ó negro qualquer das ruas e das sanzalas do mato

sangue do mesmo sangue

valor humano na amálgama da Vida

meu irmão

a quem saúdo!

 

***

CONFIANÇA

O oceano separou-me de mim

enquanto me fui esquecendo nos séculos

e eis-me presente

reunindo em mim o espaço

condensando o tempo

 

Na minha história

existe o paradoxo do homem disperso

 

Enquanto o sorriso brilhava

no canto de dor

e as mãos construíam mundos maravilhosos

 

John foi linchado

o irmão chicoteado nas costas nuas

a mulher amordaçada

e o filho continuou ignorante

 

E do drama intenso

duma vida imensa e útil

resultou certeza

 

As minhas mãos colocaram pedras

nos alicerces do mundo

mereço o meu pedaço de pão.

 

***

DO POVO BUSCAMOS A FORÇA

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós.

 

Dos que vieram

e conosco se aliaram

muitos traziam sombras no olhar

intenções estranhas.

 

Para alguns deles a razão da luta

era só ódio: um ódio antigo

centrado e surdo

como uma lança.

 

Para alguns outros era uma bolsa

bolsa vazia (queriam enchê-la)

queriam enchê-la com coisas sujas

inconfessáveis.

 

Outros viemos.

Lutar pra nós é ver aquilo

que o Povo quer

realizado.

É ter a terra onde nascemos.

É sermos livres pra trabalhar.

É ter pra nós o que criamos

Lutar pra nós é um destino –

é uma ponte entre a descrença

e a certeza do mundo novo.

 

Na mesma barca nos encontramos.

Todos concordam – vamos lutar.

 

Lutar pra quê?

Pra dar vazão ao ódio antigo?

ou pra ganharmos a liberdade

e ter pra nós o que criamos?

 

Na mesma barca nos encontramos

Quem há-de ser o timoneiro?

Ah as tramas que eles teceram!

Ah as lutas que aí travamos!

 

Mantivemo-nos firmes: no povo

buscáramos a força

e a razão

 

Inexoravelmente

como uma onda que ninguém trava

vencemos.

O Povo tomou a direção da barca.

 

Mas a lição lá está, foi aprendida:

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós.

 

***

 

Para mais poemas e para conhecer a vida e a obra de Agostinho Neto:

http://www.agostinhoneto.org/

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