• Encontre-nos

    Endereço
    Universidade Federal da Fronteira Sul

    Avenida Edmundo Gaievski, 1000,

    Acesso Rodovia PR 182, Km 466,

    CEP 85770-000

    http://www.uffs.edu.br

  • Assinar

  • Página inicial
  • Quem somos
  • Estantes
    • Literatura Brasileira
    • Literatura Portuguesa
    • Literaturas Africanas
    • Outras Literaturas
  • Podcasts
  • Blog
  • Contato

PODCAST 14 – Literatura felina (poesia)

junho 8, 2020
https://umprofessorle.com.br/wp-content/uploads/2020/06/PODCAST-14-Literatura-felina-POESIA.mp3

Neste episódio, complementando o anterior, observam-se as faces poéticas dos gatos. Transitando o gato fatal e hipnótico de Charles Baudelaire ao gato despreocupado e inocente de Fernando Pessoa, o que se monta é um animal enigmático e múltiplo. Além disso, António Gedeão e Vinícius de Moraes vêm para complementar as muitas visões e perspectivas felinas, complementando, com os três contos anteriores, as sete diferentes vidas que os gatos parecem ter.

O GATO

(Charles Baudelaire)

Vem, belo gato, em meu peito amoroso;

Recolhe as garras da tua pata,

Deixa-me entrar em teu olhar formoso

Mesclado de ágata e prata.

 

Quando os dedos carinhos vêm fazer

Em tua cabeça e dorso inflado,

E a minha mão se embriaga de prazer

Palpando o corpo eletrizado,

 

Vejo minha mulher. O seu olhar,

Tal como o teu, meu caro amigo,

É fundo e frio, como um dardo a cortar,

 

E da cabeça ao pé pequeno,

O ar sutil e o perfume do perigo

Nadam por seu corpo moreno.

***

“GATO QUE BRINCAS NA RUA”

(Fernando Pessoa)

Gato que brincas na rua

Como se fosse na cama,

Invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.

 

Bom servo das leis fatais

Que regem pedras e gentes,

Que tens instintos gerais

E sentes só o que sentes.

 

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu.

***

POEMA DO GATO

(António Gedeão)

Quem há-de abrir a porta ao gato…

quando eu morrer?

 

Sempre que pode

foge prà rua

cheira o passeio

e volta para trás,

mas ao defrontar-se com a porta fechada

(pobre do gato!)

mia com raiva

desesperada.

Deixo-o sofrer

que o sofrimento tem sua paga,

e ele bem sabe.

 

Quando abro a porta corre para mim

como acorre a mulher aos braços do amante.

Pego-lhe ao colo e acaricio-o

num gesto lento,

vagarosamente,

do alto da cabeça até ao fim da cauda.

Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,

olhos semicerrados, em êxtase,

ronronando.

 

Repito a festa,

vagarosamente,

do alto da cabeça até ao fim da cauda.

Ele aperta as maxilas,

cerra os olhos,

abre as narinas,

e rosna,

rosna, deliquescente,

abraça-me

e adormece.

 

Eu não tenho gato, mas se o tivesse

quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

***

O GATO

(Vinícius de Moraes)

 

Com um lindo salto

Lesto e seguro

O gato passa

Do chão ao muro

Logo mudando

De opinião

Passa de novo

Do muro ao chão

E pega corre

Bem de mansinho

Atrás de um pobre

De um passarinho

Súbito, para 

Como assombrado

Depois dispara

Pula de lado

E quando tudo

Se lhe fatiga

Toma o seu banho

Passando a língua

Pela barriga.

António GedeãoCharles BaudelaireFernando PessoapoemaPoesiaSéculo XIXséculo XXVinícius de Moraes
Share

Podcast

sthimoteo

You might also like

EPISÓDIO 8 – NATÁLIA CORREIA ou O sol das noites e o luar dos dias
junho 28, 2024
EPISÓDIO 7 – MANUEL DA FONSECA ou A vida é tão pouca e o mundo é tão grande
junho 20, 2024
EPISÓDIO 6 – VITORINO NEMÉSIO ou O corsário das ilhas
junho 6, 2024

Leave A Reply


Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *




© professorle2017